A automotora

«Parti na automotora das 8 e 30 da manhã. Comigo dezoito das internas, minhas alunas, rumo às suas casas no mesmo gozo de férias. Seguíamos juntas na automotora, com a diferença de eu vir, como as pessoas mais pacatas, sentadas no meu lugar, e elas na plataforma cantando e conversando com o revisor». É Maria Ondina, fazendo em Angola o caminho de Luanda à então chamada Vila Salazar. Claro que a automotora não é esta. Esta é minha.
P. S. O livro chama-se Eu Vim para Ver a Terra. A sua primeira obra em prosa.

Rara e magnífica

São raras, diz meu amigo Ernane Catroli e a ele devo esta fotografia. Raras e por isso magníficas, respondo-lhe, agradecendo e aqui fica, para todos: Maria Ondina Braga, nascida em Braga. Rara e magnífica pessoa.

Um mundo cão


«Aterrei em Pequim no Ano do Cão de 1982: um pobre rafeiro malhado de castanho e branco, cabisbaixo, olhos presos a uma carocha que se esgueira pela secura do chão. A saudade de avistar um cão, um gato, em Pequim! Nos bairros urbanos, o alti-falante a avisar de multas para quem tiver, cães, gatos criação. Daí os jovens pequineses nunca terem visto cães, e os que já os viram sentirem por eles nojo, se não medo». Chama-se Bichos esta crónica que Ondina Braga arquivou no seu livro Angústia em Pequim. Tenho-o na edição primitiva da Ulmeiro, de 1984 e na das Edições Rolim, de 1988, esta com o carimbo de verificação da tiragem, a anunciar um mundo de suspeitas, de aproveitamento, de autores a terem de se defender do mercado editorial e suas ordinarices. Um mundo cão.